segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O QUE VEIO DE LÁ

Chegada no hotel da Augusta. Atribulada. De cara uma Abordagem (tema que tanto nos interessa neste projeto) exótica de uma das figuras desta rua. Uma travesti indignada com meu olhar, segundo ela abusivo, segundo eu admirado. Estamos em território alheio, pensei. Estrangeiros seguimos para a Casa das Rosas, local onde imerso ficaríamos estes três dias, juntos aos Argonautas. De cara reconhecemos nomes que antes eram apenas postagens e imagens em vídeos no Blog. Esses eram os novos Argonautas. Integrantes que ainda no começo do processo, no encontro em Curitiba ainda eram apenas possibilidades, nada materializado ainda. Café para começar. E depois trabalho. Me atenho neste post a falar sobre “Encontros”.

1 – Do interno ao externo.


Sala quente proporcionando discussões mais acaloradas. Faço parte da CiaSenhas, uma companhia de teatro. Por que então diabos queremos a rua? E quando falamos da rua, não queremos fazer dela um palco, mas um encontro. Como um pacto feito com os pedestres, atravessaremos sua vida, seu fluxo, e deixaremos você ir. Deixaremos no tempo de um semáforo que algo do instante seja revelado. Para que tenham dúvida sobre o que seríamos? Sobre quem seríamos? Desta relação me lembro de uma colocação do Chico: “ há um interesse pelo não ensaio?” Quando pensamos em performance (as vezes resistindo muito essa terminologia) qual os mecanismos para atravessar essa fronteira entre o confinamento e o exterior.

2 – Alguém viu?

Os semáforos com as ruas Marechais (Deodoro e Floriano) tem sido nosso campo de batalha. Atravessando a rua, sempre de vermelho. Cautela, uma tentativa de assalto. Atravessar a rua no semáforo tem sido nossa ação. Esse tempo arbitrário que aqui é de 27 segundos, e que na nossa última contagem na AV. Paulista variando entre 20-30s (“semáforos inteligentes”). As caminhadas dão lugar às relações tempo/espaço. Aos poucos somos revelados para o espaço, e entre nós mesmos, à travessia passa a ser incorporado outros ritmos. Com eles olhares duvidosos. Que homem é esse parado em frente aos carros esperando até o último segundo. Alguem viu? Nada de diferente para alguns, para aqueles pertencentes aos nichos das esquinas (“panfleteiros”, Donos de uma barraca de frutas, donos de uma barraca de meias de lãs), algo estranho acontecendo. –“Vocês tomaram alguma coisa?”. O que me revela o questionamento: quem são nossos públicos? Agora em são Paulo Av. Paulista. Incorporado à ação, os Argonautas. A faixa de segurança tomada de outros vermelhinhos. Corpos estranhos. Greice, Sueli, Ary, Marcinha cadê vocês? Primeiro esse separatismo. Claro que view points (ou aquilo que nós chamamos de conexão) começa a ecoar entre os corpos. Aos poucos os Argonautas/CiaSenhas ocupando o semáforo, diferentes, mas juntos.
Ainda essa sensação. Alguém viu? Alguem está vendo isso? Esta travessia se mostra para todos os transeuntes, ou para apenas um? Quem são nossos públicos? É claro que alguns extremos surgiram. “ATravessantes” (como gosto de nos intitular) na posição de quatro na faixa. Outros que pulam de uma faixa para outra, ou ainda uma maratona para ver quantas voltas conseguimos no nosso sinal aberto.

3 – O encontro furtivo?


Me interessa neste momento além da exposição da faixa de segurança e a relação tempo/espaço, é pensar na possibilidade deste encontro ser furtivo e individual? Furtivo não no sentido as escondidas, nem disfarçado, mas talvez secreto/confidencial. Para que o encontro seja invisível aos olhos de quem vê, e potente/transformador no tato de quem foi abordado. Uma pequena narrativa que não se instala como uma apresentação. Mas como uma relação. A abordagem como um pequeno encontro, miligundos delicados mas potentes. Mediados por esses Atravessantes. Meu objetivo revelado após esse encontro em São Paulo, como ator (de teatro, e acho essa informação importantíssima) da CiaSenhas, qual a qualidade dessa Mediação? Qual o foco? A revelação do espaço ou a potência do encontro. Gosto AGORA de pensar na revelação do espaço como um procedimento, (como o ensaio? Ou preparação?)para depois revelar furtivamente o encontro.

Um comentário:

  1. Queridos todos, li o blog de rabo a cabo (já que li do fim pro começo...hehe). Tô encantada com o projeto, os textos, os olhares. Agradeço por poder estar com vocês nesta etapa final.
    beijos.
    Marina Franco
    (da SP Escola de Teatro!)

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