segunda-feira, 25 de abril de 2011

Um café por uma confidência - um olhar de fora

02.04.2011, 8h21 - 9h01
Terminal Rodoviário Barra Funda



O enunciando era claro. Um intérprete oferece um café por uma confidência e o outro observa.

E os dois formam um só corpo da experiência, o lado que é visto e o outro que observa.

Esse relato apresenta algumas observações da intérprete Dinah, sobre o que foi visto na ação da intérprete Priscilla:

O corpo do intérprete que espera que alguém se aproxime está em prontidão que algo vai acontecer, diferente do corpo cotidiano em geral das pessoas que transitam pelo espaço, aparentemente sem expectativa.

A resposta ao chamado "Um Café por Uma Confidência" parece reverberar de forma diferente de acordo com a classe social aparente. As pessoas de classe média, aparentemente mais cultas, apesar da curiosidade, não se aproximam, pois o muro da "inteligência" não permite.

As pessoas mais simples chegam mais fácil, respondendo ao impulso da curiosidade na ação.

Mesmo com essas duas formas de aproximação e repulsa observadas, o que levou ao encontro foi o ACASO.

No encontro, há uma diferença na qualidade das presenças. A pessoa que está em seu cotidiano, parece habitar apenas um mundo, o presente, com a qualidade que pode. Enquanto o intérprete, parece estar em dois mundos - na ação e no objetivo da ação. Isto é, parece que o intérprete se coloca algumas questões no ato da ação, tais como: "tenho que registrar tudo depois"; "sou eu e sou o performer, escuto como um ser e como um artista"...

O corpo do intérprete em "relaxamento" dá sinais incríveis. Sem perceber, Priscilla limpa o nariz; sorri como se escondesse algo pra quem passa; suas pernas ficam no formato de um arco; o timo, seu osso esterno, fica o tempo todo em direção ao intérprete que cuida (Dinah) e a intenção das outras partes do seu corpo para a pessoa cotidiana com quem se relaciona.

As pessoas que observam a ação, mas não chegam perto, não querem se comprometer, acabam compondo a cena. Assim como eu, que observo de longe, devo compor esse campo de energia que foi se formando aos poucos, mas não percebo. É possível estar de fora???

No encontro com a senhora e seu marido acontece um momento de silêncio, que parece revelar uma intimidade que se constrói.

ONÇA ATROPELADA VOLTA À MATA - manchete de um jornal que passa pelo meu olhar e me captura a atenção.

Tive necessidade de começar o meu registro no decorrer da ação e várias questões começaram a me assaltar: seria possível fazer a mesma ação sem falar? Tivemos dificuldade em achar um lugar, será que o enunciado deveria ser mais claro? Ou contaram com o bom senso dos intérpretes? E se a placa fosse maior? E se a Priscilla estivesse vestida de forma chamativa? Optamos por parecer cotidianas e ter uma placa sutil, em meio ao caos visual de São Paulo - podemos repetir esta ação de várias outras maneiras...

O tempo da ação é um tempo dilatado e ao sair do espaço, deixamos um rastro de curiosidade e encantamento no ar.


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