terça-feira, 20 de setembro de 2011

Encontro com o público

O encontro com o público durante a semana de eventos no Itaú Cultural foi muito provocador, estimulante, e creio que deixou em todos o desejo de novos encontros – entre Cia. Senhas e Núcleo Argonautas, entre artistas e cidades.

Acho que o principal é que conseguimos manter um espaço de risco; um espaço onde pudemos verdadeiramente experimentar, um espaço onde pudemos verdadeiramente encontrar o outro.

Desta experiência levo mais confiança e mais desejo... circular confidências pelo mar de gente da métropole, espalhar vermelho no asfalto da avenida, habitar espaços improváveis, lembrar daquilo que não volta, mas que está para sempre dentro de nós, trocar um café por uma confidência, me deixou no mínimo mais viva, mais presente, me mostrou que o trabalho do artista pode ser sempre, a cada dia, mais potente e que o espaço “entre” intérprete e espectador ou transeunte é ouro...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Encontro com convidados.





Hoje: que belo dia.
Recebemos convidados para nos acompanhar em uma ação no cruzamento entre as ruas Marechal Deodoro e XV de novembro, aqui em Curitiba.
Obrigada Isadora, Rafael, Lucas, Laís, Cassiana, Fernanda e kysy muito obrigada.

O frio nos acompanhou em cada momento, assim como o vermelho, os envelopes e as confidências ( desejo?) gestadas no tempo do semáforo e por seus arredores. Estes territórios continuam sendo estímulo, espaço que se desvenda, investigação infinita de ações, de textos e de movimentos para encontros rápidos e intensos no espaço público. Continuemos.......

Contamos a hora para o encontro marcado com os queridos parceiros - Argonautas e os outros grupos em São Paulo - no Rumos Itaú

domingo, 14 de agosto de 2011

O PROJETO ORIGINAL!

AQUI ESTÁ O PROJETO QUE ORIGINOU O TRABALHO:


NARRATIVAS URBANAS na TERRA SEM LEI


Programa Rumos Itaú Cultural Teatro
1ª. edição 2010-2011


Projeto de intercâmbio entre CiaSenhas, de Curitiba-PR, e Núcleo Argonautas, de São Paulo-SP



Dizem que os rios são a alma das cidades. Nestes rios, correndo ao lado dos carros das marginais, na nossa cidade, São Paulo... é possível extrair poesia dessa paisagem?
(O ator Thiago Antunes, no processo de Terra Sem Lei)


Selecionar documentos reais como ponto de partida para a investigação de atuação e de construção dramatúrgica significou olharmos a paisagem urbana de modo a procurar inverter os paradigmas de espetacularização utilizados pela mídia e levantar questões humanas que pudessem ser relevantes ao teatro de nosso tempo.
(Sueli Araújo, no processo Narrativas Urbanas)


Tem um livro chamado A Violência e o Sagrado, de René Girard, que diz mais ou menos o seguinte: nenhum grupo humano poderia ter existido sem a invenção do bode expiatório, a vítima sacrificial sobre a qual é canalizada a violência auto-destrutiva do grupo. A vítima é um pária sacralizado, o veneno e o remédio, o mal que é ao mesmo tempo a cura. A palavra grega para isso é fármacos, substantivo masculino cujo correspondente neutro é fármacon, a droga, a substância ambivalente capaz de salvar e matar. O ator é esse portador da doença social que nele se encarna e se faz ver, que nele encontra uma via de purgação catártica. O teatro é uma transformação dessa relação cruel originária. Se a eleição do bode é a terra sem lei que permanece por baixo de todas as leis, no mundo contemporâneo essa vítima é sacrificada sem sacrifício, sem rito, sem nada – é banalizada em massa. O teatro é, ou seria, ou será, o ensaio para a superação dessa síndrome quase insuperável de tão radicalmente entranhada no humano.
(José Miguel Wisnik, em debate sobre Terra Sem Lei, convidado pelo Núcleo Argonautas )


OBJETIVOS, JUSTIFICATIVAS


CiaSenhas, de Curitiba, e o Núcleo Argonautas, de São Paulo, propõem conjuntamente ao Programa Rumos Itaú Cultural 2010-2012 a realização do projeto Narrativas Urbanas na Terra Sem Lei, a ser desenvolvido em 6 meses.
A idéia deste projeto, embora não seja uma continuidade de um trabalho anterior, nasce como um desejo de ambos os grupos em continuar juntos no compartilhamento de formas e procedimentos de criação, além da percepção de que suas inquietações têm muito em comum.
Em 2007 e 2008, CiaSenhas e Núcleo Argonautas estiveram juntos por vários momentos. O Núcleo Argonautas estava nos momentos finais de Terra Sem Lei, projeto que recebeu o apoio do Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. E então Cia Senhas convidou o Núcleo para um compartilhamento no projeto Narrativas Urbanas, que naquele instante ainda estava em pleno andamento. Percebendo que as perguntas sobre a linguagem teatral, o desejo de um processo de criação com uma dinâmica coletiva e horizontal em suas relações, a vontade artística de lidar com o material/matéria-prima que viesse da cidade e da realidade, o forte interesse num fortalecimento da participação do ator como potente parceiro de criação... Perceber todas essas conexões entre os dois grupos foi o que motivou os encontros.
Dessa forma, Francisco Medeiros e Lucienne Guedes (direção e dramaturgia, respectivamente) estiveram várias vezes em Curitiba, participando ativamente de determinadas fases de Narrativas Urbanas, “contaminando” o processo de criação. Duas cenas dos Argonautas estiveram se apresentando em Curitiba, na própria sede


da CiaSenhas, o que se desdobrou em debates e encontros com o público também.
Tanto Terra Sem Lei quanto Narrativas Urbanas tinham a cidade na mira de sua criação. Terra Sem Lei desenvolveu sua dramaturgia a partir de documentos existentes, enquanto Narrativas Urbanas se interessava, como o próprio nome já diz, com acontecimentos urbanos, veiculados pela mídia.
O desenvolvimento dos dois projetos manteve um interesse na ação propositora do ator para a dramaturgia, radicalizada como jogo. Dessa forma, os atores se aproximaram daquilo que podemos chamar, a título explicativo, de uma “posição performática”, se considerarmos que uma definição possível disso é aproximar o intérprete daquilo que faz, sem mediações, ao menos num momento inicial, da dramaturgia ou da direção, comprometendo artista e arte no limite possível e expondo sua ação ao público, pedindo a interferência dele.
Uma poderosa ferramenta para isso foi o treinamento de Viewpoints, o sistema desenvolvido por Anne Bogart nos Estados Unidos. CiaSenhas começava a trabalhar com este sistema. O Núcleo Argonautas desenvolvia a mesma idéia, somada a outras técnicas, como o Círculo Neutro, a Coordenação Motora de M.M. Béziers, a técnica Alexander e o Kempo Indiano. Mas trabalhar com as proposições do Viewpoints possibilitou sobretudo o alargamento das possibilidades expressivas da ação física, relacionado ao espaço que se quer ocupar/revelar e aos outros intérpretes, agindo em conjunto. Neste projeto, o desejo é viabilizar um aprofundamento, dessa vez comum aos dois grupos, no estudo de Viewpoints.
Depois dessa experiência, em que o cruzamento dos Argonautas com CiaSenhas foi pontual, embora intenso, e que ocorreu depois do término do projeto dos Argonautas, é que


queremos propor ao Rumos Itaú Cultural Teatro realizar um encontro presencial dos grupos para investigação conjunta, seguido de dois experimentos cênicos diferentes criados em simultaneidade e, por fim, um experimento comum ao dois grupos. Na coordenação estarão Sueli Araujo e Marcia Moraes (diretora/dramaturga e produtora da CiaSenhas, respectivamente), de Curitiba, e Francisco Medeiros e Lucienne Guedes (diretor e dramaturga do Núcleo Argonautas), de São Paulo. Cada grupo contará com a participação de 4 a 6 de seus atores. No total, aproximadamente 14 pessoas estarão diretamente envolvidas.

O que chamamos de “experimento” cênico? O que serão estas “apresentações”? Na segunda fase do projeto haverá 2 experimentos simultâneos, em que cada grupo será responsável por uma ação cênica em suas cidades de origem, CiaSenhas num espaço aberto/público e Núcleo Argonautas num especo fechado. Na terceira fase haverá o compartilhamento desses dois experimentos entre os dois grupos e a criação de um terceiro experimento, comum a todos. O mais importante desses experimentos é a relação que estabeleceremos com o público. A idéia é colocar o obra em profunda relação com este desejo, colocá-la no risco mesmo da experimentação da linguagem, aproximando o ator do performer e contaminando a cena teatral com um acontecimento que se deseja não-representativo.

MATÉRIAS-PRIMAS: O ESPAÇO E O “DOCUMENTO” QUE NOS INTERESSAM

Terra Sem Lei aconteceu no espaço fechado: uma casa serviu para a pesquisa e os experimentos cênicos, com suas salas

diferentes, com dimensões incomuns que de fato interferiram nas cenas. Já Narrativas Urbanas chegou ao espaço público, à rua. Uma de suas cenas coloca o intérprete de Homem piano – uma instalação para a memória em total e direta relação com o público passante, dependendo da ação desse público para que o trabalho se dê.
Partimos destas experiências, portanto. A idéia é que os Argonautas continuem na investigação do espaço fechado, de características arquitetônicas e históricas importantes e estimulantes, e que CiaSenhas continue na investigação do espaço público/aberto.
Também pretendemos continuar a perseguir uma atitude performática, na mesma definição que emprestamos anteriormente, aquela que aproxima artista e sua ação num comprometimento que se deseja total, correndo os riscos de uma ação não mais “protegida” ou “mediada” pela representação e dramaturgia prévia.
Dessa vez, partiremos de um único material inicial, comum aos dois grupos: um material forjado e provocado, através da internet. A idéia é lançar perguntas para que o maior número de pessoas responda, anonimamente, às provocações:


Qual é o seu maior desejo?
O que é confiança?
Você consegue confiar? Em quem?
Você pode nos fazer uma confidência agora?






Estas perguntas inquietam os dois grupos, desde a realização dos últimos processos citados. Desejo, confiança, confidência: questões-problemas que unem o público e o privado, implicam casa e a rua, e também o sagrado e o profano. Estas respostas serão o material estímulo para o projeto.
Será necessário, sabemos, criar condições favoráveis e estimulantes na internet para que muitas pessoas se interessem e participem. Para tanto, além do blog necessário ao desenvolvimento do projeto junto ao Rumos, lançaremos mão de outras ferramentas, inclusive a rádio.


AS TRÊS FASES DO TRABALHO

(Todas as atividades serão registradas no blog do projeto. O projeto compromete-se também com a apresentação dos resultados da pesquisa em mostra a ser realizada em 2011, promovida pelo Itaú Cultural.)

Primeira fase, ou formação compartilhada

Primeiro mês do projeto, primeiro encontro presencial
1. Realização de uma oficina de 5 dias, com a participação de todos os integrantes dos dois grupos, na sede da CiaSenhas, em Curitiba. A coordenação da oficina estará a cargo de Graziela Mantoanelli (ver currículo nas páginas seguintes*). Tendo o Viewpoints como principal método empregado, a oficina permitirá o estudo e a experiência do corpo/ser do intérprete em relação aos espaços fechados e abertos, ao dentro e fora, às vulnerabilidades/permeabilidades do corpo em ação, sempre na perspectiva de estar diante do público.
2. Este primeiro encontro presencial dos grupos , além do compartilhamento da oficina, também irá proporcionar a discussão de bibliografias, escolha de leituras e estudos comuns e outras referências que irão nortear a pesquisa (filmes, imagens, músicas, etc.). Dessa forma poderemos partir realmente de um lugar comum aos dois grupos, inclusive conceitual.
3. Neste encontro também serão revistas as perguntas que faremos na internet, base do trabalho de criação que se dará a seguir. Embora elas possam mudar em seu enunciado, permanecerão como nossos interesses os temas: Confiança, Desejo, Confidência. Neste momento serão estabelecidos os procedimentos virtuais (e também os não-virtuais) para que isso se dê, além de toda a identidade visual do projeto.

Segundo mês do projeto
1. Lançamento do blog, twitter, facebook e ainda outras formas de desenvolvimento do projeto, com as provocações/perguntas destinadas à participação dos internautas. Como já dissemos, estas respostas/depoimentos servirão como impulso, estímulo e suporte à criação dos “experimentos cênicos” da fase seguinte.
2. Realização dos estudos e leituras comuns aos dois grupos. Compartilhamento virtual de reflexões.

Terceiro mês do projeto
1. Organização e seleção do material coletado via internet para a elaboração dos “experimentos cênicos”.
2. Continuação dos estudos e leituras comuns aos dois grupos. Compartilhamento virtual de reflexões.


Segunda fase, ou criação simultânea

Quarto mês do projeto
1. A partir do material selecionado na fase anterior, os dois grupos farão as escolhas dos espaços para a realização dos “experimentos cênicos”.
2. A partir da escolha dos espaços se dará a elaboração final dos “experimentos” de cada grupo, em sua cidade.

Quinto mês do projeto
Realização dos dois “experimentos cênicos” pelos dois grupos, simultaneamente, em São Paulo e Curitiba.


Terceira fase, ou criação conjunta

Sexto mês do projeto, segundo encontro presencial
1. Esse é o momento em que os criadores de ambos os grupos vão compartilhar presencialmente seus “experimentos cênicos”. CiaSenhas virá até São Paulo, já que seu trabalho anterior prevê a realização num espaço aberto, e os dois grupos farão novas “apresentações” diante do público.
2. A partir do conhecimento e do reconhecimento das ações artísticas realizadas, os grupos irão, juntos, definir as possibilidades de integrar as duas ações para a criação de um Experimento de Ação Conjunta, um Programa Final unindo e/ou transformando as escolhas de espaço feitas por cada grupo e os procedimentos de ação. Consideramos também a possibilidade de ter muitos artistas convidados especialmente para este momento, se o trabalho assim desejar; seriam artistas de São Paulo, especialmente convidados para este dia final.
3. Realização do trabalho final com os dois grupos (e talvez artistas convidados).
4. Realização de debate público, depois da realização do trabalho final.
5. Realização de avaliação conjunta de todo o processo.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O QUE VEIO DE LÁ

Chegada no hotel da Augusta. Atribulada. De cara uma Abordagem (tema que tanto nos interessa neste projeto) exótica de uma das figuras desta rua. Uma travesti indignada com meu olhar, segundo ela abusivo, segundo eu admirado. Estamos em território alheio, pensei. Estrangeiros seguimos para a Casa das Rosas, local onde imerso ficaríamos estes três dias, juntos aos Argonautas. De cara reconhecemos nomes que antes eram apenas postagens e imagens em vídeos no Blog. Esses eram os novos Argonautas. Integrantes que ainda no começo do processo, no encontro em Curitiba ainda eram apenas possibilidades, nada materializado ainda. Café para começar. E depois trabalho. Me atenho neste post a falar sobre “Encontros”.

1 – Do interno ao externo.


Sala quente proporcionando discussões mais acaloradas. Faço parte da CiaSenhas, uma companhia de teatro. Por que então diabos queremos a rua? E quando falamos da rua, não queremos fazer dela um palco, mas um encontro. Como um pacto feito com os pedestres, atravessaremos sua vida, seu fluxo, e deixaremos você ir. Deixaremos no tempo de um semáforo que algo do instante seja revelado. Para que tenham dúvida sobre o que seríamos? Sobre quem seríamos? Desta relação me lembro de uma colocação do Chico: “ há um interesse pelo não ensaio?” Quando pensamos em performance (as vezes resistindo muito essa terminologia) qual os mecanismos para atravessar essa fronteira entre o confinamento e o exterior.

2 – Alguém viu?

Os semáforos com as ruas Marechais (Deodoro e Floriano) tem sido nosso campo de batalha. Atravessando a rua, sempre de vermelho. Cautela, uma tentativa de assalto. Atravessar a rua no semáforo tem sido nossa ação. Esse tempo arbitrário que aqui é de 27 segundos, e que na nossa última contagem na AV. Paulista variando entre 20-30s (“semáforos inteligentes”). As caminhadas dão lugar às relações tempo/espaço. Aos poucos somos revelados para o espaço, e entre nós mesmos, à travessia passa a ser incorporado outros ritmos. Com eles olhares duvidosos. Que homem é esse parado em frente aos carros esperando até o último segundo. Alguem viu? Nada de diferente para alguns, para aqueles pertencentes aos nichos das esquinas (“panfleteiros”, Donos de uma barraca de frutas, donos de uma barraca de meias de lãs), algo estranho acontecendo. –“Vocês tomaram alguma coisa?”. O que me revela o questionamento: quem são nossos públicos? Agora em são Paulo Av. Paulista. Incorporado à ação, os Argonautas. A faixa de segurança tomada de outros vermelhinhos. Corpos estranhos. Greice, Sueli, Ary, Marcinha cadê vocês? Primeiro esse separatismo. Claro que view points (ou aquilo que nós chamamos de conexão) começa a ecoar entre os corpos. Aos poucos os Argonautas/CiaSenhas ocupando o semáforo, diferentes, mas juntos.
Ainda essa sensação. Alguém viu? Alguem está vendo isso? Esta travessia se mostra para todos os transeuntes, ou para apenas um? Quem são nossos públicos? É claro que alguns extremos surgiram. “ATravessantes” (como gosto de nos intitular) na posição de quatro na faixa. Outros que pulam de uma faixa para outra, ou ainda uma maratona para ver quantas voltas conseguimos no nosso sinal aberto.

3 – O encontro furtivo?


Me interessa neste momento além da exposição da faixa de segurança e a relação tempo/espaço, é pensar na possibilidade deste encontro ser furtivo e individual? Furtivo não no sentido as escondidas, nem disfarçado, mas talvez secreto/confidencial. Para que o encontro seja invisível aos olhos de quem vê, e potente/transformador no tato de quem foi abordado. Uma pequena narrativa que não se instala como uma apresentação. Mas como uma relação. A abordagem como um pequeno encontro, miligundos delicados mas potentes. Mediados por esses Atravessantes. Meu objetivo revelado após esse encontro em São Paulo, como ator (de teatro, e acho essa informação importantíssima) da CiaSenhas, qual a qualidade dessa Mediação? Qual o foco? A revelação do espaço ou a potência do encontro. Gosto AGORA de pensar na revelação do espaço como um procedimento, (como o ensaio? Ou preparação?)para depois revelar furtivamente o encontro.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A ABORDAGEM


Para a “abordagem” nos colocamos, cada um, em um dos pontos de um cruzamento no centro da cidade – Marechal Floriano com Marechal Deodoro.

Vestidos de vermelho, portando envelopes vermelhos (dentro de cada envelope contendo havia um pedaço de tecido de algodão cru com uma das frases: A confiança Comove , A Confiança Persiste, A confiança Existe).

Definimos que a ação “abordagem” começa com uma aproximação física permitida a partir de um contato visual que seja percebido como um jogo de empatia mútua entre o performer e o passante. Este contato instaura as condições para o desenvolvimento do texto pré-estabelecido – isso é um pouco abstrato, mas é assim que é!

O tempo do sinaleiro delimita o tempo dos encontros.

O texto:

Posso confiar em você?

(?)

Por favor, entregue este (envelope, presente) a quem você confia.

Perguntas que nos movem neste momento

Como criar um espaço em que a confiança seja uma ação promovida e compartilhada através da arte?

Como se aproximar do Outro e propor uma ação que é um jogo narrativo?

Como criar espaços de contato e relação com o Outro?


Como dialogar com o fluxo, com o tempo e o espaço, em cada uma das experiências?

Como se estabelece o narrador (no trânsito das ruas e nas narrativas ambulantes)?

Como a palavra pode tornar-se corpo no espaço aberto?

Como a dramaturgia pode dialogar com o tempor restrito de um sinaleiro.

Como se fazer ouvir?

Como o treino permite que o corpo seja atualizado constantemente e mantenha-se em estado cênico no espaço aberto?

Compor com o espaço físico? Dinâmicas de movimento e Qualidade da escuta.

Proposta para a próxima experiência (inicialmente chamada de Travessia)

Compartilhar a provocação que os colegas Argonautas/ SP propuseram para suas pesquisas e utilizar também nós um “objeto precioso” como objeto-confiança na Travessia.

Acionar a cor vermelha: em nossos corpos e dos passantes para criar uma paisagem comum como desenho visual de uma narrativa no espaço?

Alguns relatos da experiência “abordagem”

Uma senhora de 80 anos se recusou a receber o envelope alegando que não ficaria com esta reponsabilidade pois, com a idade que tinha não confiava mais em ninguém.

Uma outra senhora disse, não sem antes titubear, que sim, eu podia confiar. Por fim, assegurou que já sabia a quem entregar o envelope – uma amiga querida que iria encontrar em seguida

segunda-feira, 11 de julho de 2011

encontros para os encontros

Marcado, amanhã faremos o estudo "abordagem" que é chegar perto, convidar, se fazer ouvir, perceber o entorno, criar vínculos.
É uma experiência preliminar relacionada ao estudo sobre narrativas urbanas na terra sem lei e confiança.
Munidos de um roteiro (e muitas perguntas) iremos nos aproximar de pessoas para acionar um ato de confiança.
Con: juntos
fiar: dar crédito.


Espaço de confiança



Temos pensado no tempo cronológico e o tempo sentido. isso nos conduz ao tempo arbitrário dos espaços urbanos que organizam os passos, a percepção e os comportamentos. Nos perguntamos sobre possibilidades de criar um espaço-tempo kairos, na vida urbana, em que a confiança e a confidência seja um ato compartilhado. vimos e organizamos mapas: geográficos, mentais, perceptivos.......

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Objetos Preciosos

Cada um de nós tinha que trazer 5 objetos preciosos. Mas o que são objetos preciosos?

Objetos de estimação, caros, que provoquem o outro, que me provoquem...

"Objeto precioso é aquele que você sabe exatamente onde está!" - essa definição me guiou.

Cada um trouxe uma parte do seu universo em objetos, mesmo que o objeto chegasse com o enunciado "eu não sei se entendi direito a proposta..."

Dinah:

1. anel solitário

2. Álbum da família

3. lenço espanhol

4. 2 ursos - teddy bear e o Napoleon

5. maleta com adesivos de viagem


Priscilla:

1. cadeirinha

2. bule

3. lâmpada

4. secador de cabelos

5. máscara de carnaval


Marcio:

1. medalhinha messiânica

2. guias umbanda

3. carta do pai, ao conhecer o seu apê em SP

4. livro TAZ

5. música “closing Time”, do tom waits


Fabricio:

1. café

2. pão

3. terço da avó

4. quartzo branco

5. reza do Reiki


Lucienne:

1. caixinha de música

2. maleta Paris

3. chaveiro com fotos dos filhos

4. mezuzá

5. gola de lã


Plínio:

1. caixinha/porta-jóias da Turquia

2. máscara de Londres

3. Brasão da família

4. camisa com tecido africano

5. alfinete da Bolívia

Quando no elevador

Relatos sobre as intervenção no elevador - espaço íntimo, confiança?

Inicialmente, para as intervenções nos elevadores, selecionamos alguns edificios no centro da cidade conforme sua localização, os aspectos histórico e os frequentadores. No entanto, foi preciso alterar as escolhas iniciais e sairmos a “cata” de edificios que tivesse alguma fissura em sua segunça. Antes de entrar em um prédio, praticamos uma espécie de devira não programada.

Duas situações emolduraram a ação do elevador. Uma delas foi a necessidade de driblar os homens-seguranças plantados nas recepções dos edificios. Os seguranças averiguavam as entradas e acompanhavam, através de monitores, todos os movimentos no interior do elevador. Esta situação gerou a sensação de clandestinidade a cada tentativa de entrar nos edificios. A presença das câmeras de segurança, faz perceber uma precária privacidade nostalgica. Neste caso, experiênciar a “atmosfera” de intimidade, de confiança ou confidência em um elevador – que, por sua dimensão exige a proximidade de corpos - teve paradoxos interessantes: o que seria vivência, amplia-se e se altera porque o encontro ultrapassa seu território real – elevador - e se multiplica em imagens monitoradas por outros.

Quanto as confidências pessoais a serem propostas: escolhi confidenciar uma situação de infância em que minha mãe costuvava dizer que eu não era sua filha. As reações foram muito parecidas e se limitavam a lamentar a minha história e me olhar com compaixão. Apenas uma mulher, muito sóbria e silenciosa faz o seguinte comentário (irado e ressentido) ao sair do elevador: “É, isso acontece. A minha dizia que eu era filha de um louco que frequentava a vizinhança”.

Quando a pergunta era Você já mentiu para o imposto de renda? A maioria fugia do assunto ou apresentava um risada dissimulada, as vezes jocosa. Como se o assunto fosse engraçado e sacana. Uma senhora com vários papeis nas mãos respondeu categoricamente: eu acho que não minto mas entrego tudo para o meu contador. E um outro senhor, já de bastante idade, esclareceu: claro que eu minto, você não? - me perguntou. Nesta ocasião usei o argumento da senhora: eu entrego tudo pro contador. Em seguindo, silêncio.

De noite a frase de abordade fora: Você já roubou o namorado de alguém?

Ação realizada: Com um pacote de bombons nas mão, no momento que me parecia propício, lançava a frase combinada anteriormente.

Uma situação e uma cumplicidade

1- elevador vazio entra um homem de meia-idade

2-ele observa os bombons em minhas mãos

3- faço a pergunta: você já roubou o namorado de alguém?, dando a entender que me encontraria com alguém em poucos minutos.

4- ele me ouve e me devolve a pergunta: E você, ja roubou a namorada de alguém?

5-fico desconcertada, acho que ele confundiu o gênero, me confundiu? Me perco. Mas ele insiste e antes de tentar lhe responder alguma coisa o elevador para e entram várias pessoas.

6- silêncio entre nós dois e um vinculo invisível nos une através de olhares.

7- o elevador se esvazia outra vez e nós permanecemos.

8- ele retoma a pergunta em silêncio.

9- eu respondo: sim eu já roubei a namorada de um amigo e você?

10- ele responde: sim eu já roubei o namorado de uma amiga.

11- rimos muito, ele ainda confidênciou que estava saindo de um casamento de 15 anos e no momento sofria muto por isso.

12- ao sair ele perguntou se eu ainda ficaria no interior do elevador.

13- Eu disse que sim (pois ainda faltavam ainda algumas subidas e descidas).

14- nos despedimos como amigos e cúmplices.

Sobre a Mortadlidade da Confiança

Pense como se fosse uma dramaturgia. Como se fosse possível tirar uma seiva de dramaturgia do encontro, quando um sabe que se trata de arte/(de pesquisa) quando o outro não sabe do que se trata...

Agora estou aqui com meus pensamentos onde não deveriam estar. Pensando em apocalipses em desgraças, no medo de ficar sem grana e ficarei. Até então não acreditava em Deus, mas passei a acreditar em alguma dessas coisas.
Entendo que o mundo é cada vez mais... menos... pra mim.
Que não me serve. Que não me olha. Que não me deixa lembrar. "O que é felicidade meu amor?" - Essa bossa já não é mais nova.
-"Eu prefiro rock n´roll" disse o Turco. "sabe onde eu posso ouvi-lo?". "Ele, o rock, morreu para o mundo, ele morreu para mim".
Já eu faço parte da liberdade. Me autorizo, me autoritarizo à isso.
É por isso pelo cabestro que o burro morreu chucro.
Procurando entre o palco desta praça por uma palavra de amor que desse conta dessa catastrofe toda, da solidariedade.
"Eu sou uma espécie de milagre" - esse não era anônimo, esse era Bokowski.
Não há nesse mundo nada mais óbvio que um turco que trabalha por dinheiro.

Santo Agostinho

"Não me barre a porta que dá para o desejo... deixe que eu penetre nessas coisas tão familiares quanto misteriosas... São coisas tão evidentes e perfeitamente óbvias, e no entanto tão obscuras, e sua descoberta é uma coisa nova."

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Missão: À outra Margem!!

Está tem sido nossa exclamação! nos últimos e frios dias de Rumos. Tentando tomar um Rumo para a Rua mais especificamente. "Missão: Levar até a outra margem", frase tirada de um dos possíveis programas em que estamos trabalhando. Levar o que e a quem? Não sabemos ainda, mas sabemos que é "À Outra Margem". Disso temos certeza. Até por que estamos precisando vencer o cinza do céu e encarar o cinza do concreto.

domingo, 3 de julho de 2011

2 de julho - duetos numa sala no Brás e olhos



DRAMATURGIA #1 - DINAH FELDMAN: NO QUE EU CONFIO

(1ª gravação) Segura na minha mão. Você está sentindo a temperatura dela? E a textura? Eu vou te colocar uma venda.

O que fazer senão dar chance?

Volte para o que nos une – as nossas mãos juntas. Dá pra sentir melhor a temperatura e a textura?

Eu vou te sentar numa cadeira agora e tirar os seus sapatos. Eu não sei se você reparou que eu também estou sem sapatos. Assim nós podemos caminhar e sentir melhor o trajeto.

O que fazer senão dar um passo em direção contrária ao medo?

Talvez quem precise desse passeio seja eu, mas te ofereço uma carona.

Então, vamos!

Vou deixar você agora à vontade para escutar os sons do nosso caminho.

Se você tiver medo, aperta a minha mão. Estamos juntos!

(caminhada)

(2ª gravação) A gente está voltando. Agora eu vou te preparar pra você poder calçar os seus sapatos novamente. Vou te sentar na cadeira e te dar um presente. (banho nos pés)

(3ª gravação) Eu acho que eu geralmente confio no que os meus olhos vêem. Mas eles sempre chegam primeiro, não sei se é confiança ou hábito. Com você acontece o mesmo?

Hoje, eu confio no meu ginecologista, na minha intuição e no mistério. Tem gente que confia em Deus, outros em ETs, tem gente que confia em espíritos...eu andei perguntando por aí, tem gente que confia em parceria. Tem gente que confia em mim, você acredita?, em uma força maior, em si mesmo e em todas as pessoas, até que provem o contrário, nas raízes, nos encontros, que ainda poderemos viver mais dignamente e respeitosamente, por ser o mínimo que quem vive merece, no Gandalf, que é um espírito angelical do mundo do escritor JRRTolkien, nas amizades que só o tempo aproxima, em Jedais do Star Wars, em duendes, anjos, astros...

Não dá pra duvidar a vida inteira...

NO QUE EU CONFIO - começo da ideia

Ao ouvir o enunciado NO QUE EU CONFIO, ler e reler, comecei a tentar deixar ecoar e buscar dentro de mim a resposta. Ao mesmo tempo, quis criar algo cênico que pudesse dar forma a minha visão...Imagens soltas, ideias, fragmentos começaram a aparecer. Tudo muito difícil de "segurar com as mãos"...

Primeira ação: coloquei no Facebook uma provocação: Eu confio em... (quem quiser, complete!!!) e vieram 21 comentários: